No segundo dia de julgamento pela tentativa de homicídio do motorista de kombi de transporte alternativo Marcelo Eduardo dos Santos Lopes ocorrida na zona oeste do Rio de Janeiro em 2005, os irmãos Natalino e Jerônimo Guimarães voltaram a negar participação no crime e atribuíram a acusação à perseguição política. Eles são julgados desde ontem, no 4º Tribunal de Júri, no centro da capital fluminense, ao lado de Luciano Guimarães, filho de Jerominho, e Leandro Paixão Viegas, o Leandro Quebra-Ossos.
"Nunca tive kombi, nunca tive van, nada disso. Foi tudo uma trama política. Me colocaram no pior presídio do mundo (em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul), é o pior lugar do mundo, só duas horas de sol por dia. Sou um chefe de família, não sou um bandido. Estou chorando como homem, porque sou inocente", disse, exaltado, Jerominho Guimarães, negando fazer parte da milícia que ficou conhecida na região como Liga da Justiça.
Logo após a declaração, a juíza Elizabeth Machado Louro deu fim ao interrogatório, que durou cerca de 40 minutos. O acusado não quis responder as perguntas do Ministério Público. Logo em seguida, entrou seu irmão, Natalino Guimarães, que também se declarou inocente. "Foi com 52 anos de idade que me vi pela primeira vez na frente de um juiz. Essas acusações são mentirosas, armaram uma trama política contra a minha família", afirmou.
Antes deles, Luciano Guimarães negou participação no crime em cerca de 20 minutos de depoimento. Leandro Quebra-Ossos seguiu recomendação da defensoria pública e preferiu ficar em silêncio diante da juíza e do MP. Natalino e Jerominho, condenados a 10 anos e seis meses de prisão em regime fechado por formação de quadrilha, apontaram inimigos políticos na região que teriam armado uma possível cilada para incriminá-los.
Um destes adversários seria o ex-policial militar Josimar José da Silva, o Mazinho, que também se lançou candidato a vereador representando algumas comunidades da zona oeste do Rio. Ao lado do coronel Dario Cony dos Santos, hoje comandante do Regimento de Polícia Montada, eles teriam ligação, de acordo com os interrogados, com traficantes da favela do Barbante.
"Me diziam que o coronel tinha um acerto com o traficante para que nenhuma viatura entrasse na comunidade. O coronel não teria como não ter raiva de mim", afirmou Jerominho, que disse sempre defender os interesses da comunidade contra os traficantes e que, por isso, teria virado alvo de perseguição por parte de Cony.
"Na época da ditadura, seu inimigo jogava um panfleto na casa do vizinho acusando ele de ser subversivo. Hoje, se você é inimigo de um policial, já te acusam logo de ser miliciano. Virei miliciano porque comprei um adesivo bonito numa banca de jornal", afirmou Natalino, lembrando de sua suposta ligação com Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, tido como um dos principais executores do grupo. Os advogados de Batman conseguiram desmembrar o processo e ele responderá pela tentativa de homicídio em outro julgamento. Ele também está preso em Campo Grande pelo crime de formação de quadrilha.
Natalino e o irmão negaram qualquer tipo de participação em uma suposta máfia para controlar o transporte alternativo na região - fato que teria ocasionado a tentativa de homicídio, uma vez que a vítima não teria aceitado participar de um esquema ilícito de cobrança de propinas. "Jamais tive qualquer tipo de interesse nisso, além de ajudar essa classe, e fazer bem ao município, às pessoas que precisam de transporte para se locomover e sair da zona oeste do Rio", completou Jerominho.
Histórico
Este é o segundo dia de julgamento do crime que teria ocorrido em junho de 2005. De acordo com a denúncia do Ministério Público do Estado, o grupo é acusado de tentar cobrar um pedágio diário de R$ 42 dos cerca de 60 motoristas que faziam o trajeto Jardim Maravilha-Campo Grande. Marcelo Lopes, por discordar do pagamento, sofreu um atentado, do qual escapou ileso. Todos os denunciados já cumprem pena por formação de quadrilha no presídio federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Após a oitiva de testemunhas de defesa e de acusação do julgamento, ocorrida na última terça-feira, e do interrogatório dos acusados, que ocorreu na manhã desta quarta-feira, foi iniciada, então, uma fase de debates entre as duas partes que pode durar até 13 horas. A previsão do Tribunal de Justiça é que o veredito seja lido apenas na madrugada ou manhã desta quinta-feira.
No primeiro dia de trabalhos no 4º Tribunal de Júri, foram ouvidas oito testemunhas - quatro de acusação e quatro de defesa. Entre eles, Eduardo Pinta da Cunha, ex-policial civil, que está preso acusado de integrar uma milícia, e outro policial, Ricardo Alves Pereira. Foi Pereira quem abordou os carros de Natalino e Jerominho após a tentativa de homicídio, em 2005. Ele alega que não havia prova para detê-los.
Também prestaram depoimento ao júri o delegado Antônio Silvino, que dirigiu o inquérito sobre o crime na época, e o coronel Dario Cony dos Santos, comandante do Regimento de Polícia Montada e acusado pelos irmãos de ter armado a trama para incriminá-los. Ambos alegaram ter ciência das atividades criminosas realizadas pelo grupo em favelas da zona oeste do Rio de Janeiro, mas disseram que não têm qualquer tipo de participação em atividade ilícita, tampouco com traficantes da região do Barbante.
Natalino, ex-deputado estadual, e Jerominho, ex-vereador, permanecem algemados durante todo o julgamento - a juíza Elizabeth Machado Louro negou o pedido da defesa para que os irmãos pudessem retirar as algemas. Depois do primeiro dia de julgamento, eles passaram a noite no presídio de Bangu 2.
O processo foi retomado este ano. Uma discussão entre uma defensora pública e a juíza sobre a necessidade da presença de uma testemunha (o hoje deputado federal Rodrigo Bethlem, do PMDB-RJ), em outubro do ano passado, adiou o julgamento.
A Liga da Justiça, no auge de seu período de atuação, dominou importantes comunidades da zona oeste do Rio - como Rio das Pedras e Gardênia Azul. Natalino Guimarães, ex-deputado estadual pelo DEM e ex-inspetor de Polícia Civil, foi preso em julho de 2007, após ser flagrado em casa numa reunião com cerca de 15 homens - todos supostamente membros da Liga da Justiça. Houve tiroteio e Natalino foi interceptado quando tentava uma fuga de carro. Detido, ele promoveu a cena que ficou marcada na época ao levantar as mãos algemadas gritando inocência.
A cena acabou reproduzida, anos mais tarde, no filme Tropa de Elite 2 - quando um dos envolvidos com a milícia na trama, o deputado Fortunato, sai algemado e faz o mesmo gesto, após ser detido dentro da Assembleia Legislativa do Rio. Jerominho, pelas mesmas acusações de chefiar a milícia armada, foi preso antes, em dezembro de 2007.
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Os irmãos Jerominho e Natalino, aguardando o julgamento. |
"Nunca tive kombi, nunca tive van, nada disso. Foi tudo uma trama política. Me colocaram no pior presídio do mundo (em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul), é o pior lugar do mundo, só duas horas de sol por dia. Sou um chefe de família, não sou um bandido. Estou chorando como homem, porque sou inocente", disse, exaltado, Jerominho Guimarães, negando fazer parte da milícia que ficou conhecida na região como Liga da Justiça.
Logo após a declaração, a juíza Elizabeth Machado Louro deu fim ao interrogatório, que durou cerca de 40 minutos. O acusado não quis responder as perguntas do Ministério Público. Logo em seguida, entrou seu irmão, Natalino Guimarães, que também se declarou inocente. "Foi com 52 anos de idade que me vi pela primeira vez na frente de um juiz. Essas acusações são mentirosas, armaram uma trama política contra a minha família", afirmou.
Antes deles, Luciano Guimarães negou participação no crime em cerca de 20 minutos de depoimento. Leandro Quebra-Ossos seguiu recomendação da defensoria pública e preferiu ficar em silêncio diante da juíza e do MP. Natalino e Jerominho, condenados a 10 anos e seis meses de prisão em regime fechado por formação de quadrilha, apontaram inimigos políticos na região que teriam armado uma possível cilada para incriminá-los.
Um destes adversários seria o ex-policial militar Josimar José da Silva, o Mazinho, que também se lançou candidato a vereador representando algumas comunidades da zona oeste do Rio. Ao lado do coronel Dario Cony dos Santos, hoje comandante do Regimento de Polícia Montada, eles teriam ligação, de acordo com os interrogados, com traficantes da favela do Barbante.
"Me diziam que o coronel tinha um acerto com o traficante para que nenhuma viatura entrasse na comunidade. O coronel não teria como não ter raiva de mim", afirmou Jerominho, que disse sempre defender os interesses da comunidade contra os traficantes e que, por isso, teria virado alvo de perseguição por parte de Cony.
"Na época da ditadura, seu inimigo jogava um panfleto na casa do vizinho acusando ele de ser subversivo. Hoje, se você é inimigo de um policial, já te acusam logo de ser miliciano. Virei miliciano porque comprei um adesivo bonito numa banca de jornal", afirmou Natalino, lembrando de sua suposta ligação com Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, tido como um dos principais executores do grupo. Os advogados de Batman conseguiram desmembrar o processo e ele responderá pela tentativa de homicídio em outro julgamento. Ele também está preso em Campo Grande pelo crime de formação de quadrilha.
Natalino e o irmão negaram qualquer tipo de participação em uma suposta máfia para controlar o transporte alternativo na região - fato que teria ocasionado a tentativa de homicídio, uma vez que a vítima não teria aceitado participar de um esquema ilícito de cobrança de propinas. "Jamais tive qualquer tipo de interesse nisso, além de ajudar essa classe, e fazer bem ao município, às pessoas que precisam de transporte para se locomover e sair da zona oeste do Rio", completou Jerominho.
Histórico
Este é o segundo dia de julgamento do crime que teria ocorrido em junho de 2005. De acordo com a denúncia do Ministério Público do Estado, o grupo é acusado de tentar cobrar um pedágio diário de R$ 42 dos cerca de 60 motoristas que faziam o trajeto Jardim Maravilha-Campo Grande. Marcelo Lopes, por discordar do pagamento, sofreu um atentado, do qual escapou ileso. Todos os denunciados já cumprem pena por formação de quadrilha no presídio federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Após a oitiva de testemunhas de defesa e de acusação do julgamento, ocorrida na última terça-feira, e do interrogatório dos acusados, que ocorreu na manhã desta quarta-feira, foi iniciada, então, uma fase de debates entre as duas partes que pode durar até 13 horas. A previsão do Tribunal de Justiça é que o veredito seja lido apenas na madrugada ou manhã desta quinta-feira.
No primeiro dia de trabalhos no 4º Tribunal de Júri, foram ouvidas oito testemunhas - quatro de acusação e quatro de defesa. Entre eles, Eduardo Pinta da Cunha, ex-policial civil, que está preso acusado de integrar uma milícia, e outro policial, Ricardo Alves Pereira. Foi Pereira quem abordou os carros de Natalino e Jerominho após a tentativa de homicídio, em 2005. Ele alega que não havia prova para detê-los.
Também prestaram depoimento ao júri o delegado Antônio Silvino, que dirigiu o inquérito sobre o crime na época, e o coronel Dario Cony dos Santos, comandante do Regimento de Polícia Montada e acusado pelos irmãos de ter armado a trama para incriminá-los. Ambos alegaram ter ciência das atividades criminosas realizadas pelo grupo em favelas da zona oeste do Rio de Janeiro, mas disseram que não têm qualquer tipo de participação em atividade ilícita, tampouco com traficantes da região do Barbante.
Natalino, ex-deputado estadual, e Jerominho, ex-vereador, permanecem algemados durante todo o julgamento - a juíza Elizabeth Machado Louro negou o pedido da defesa para que os irmãos pudessem retirar as algemas. Depois do primeiro dia de julgamento, eles passaram a noite no presídio de Bangu 2.
O processo foi retomado este ano. Uma discussão entre uma defensora pública e a juíza sobre a necessidade da presença de uma testemunha (o hoje deputado federal Rodrigo Bethlem, do PMDB-RJ), em outubro do ano passado, adiou o julgamento.
A Liga da Justiça, no auge de seu período de atuação, dominou importantes comunidades da zona oeste do Rio - como Rio das Pedras e Gardênia Azul. Natalino Guimarães, ex-deputado estadual pelo DEM e ex-inspetor de Polícia Civil, foi preso em julho de 2007, após ser flagrado em casa numa reunião com cerca de 15 homens - todos supostamente membros da Liga da Justiça. Houve tiroteio e Natalino foi interceptado quando tentava uma fuga de carro. Detido, ele promoveu a cena que ficou marcada na época ao levantar as mãos algemadas gritando inocência.
A cena acabou reproduzida, anos mais tarde, no filme Tropa de Elite 2 - quando um dos envolvidos com a milícia na trama, o deputado Fortunato, sai algemado e faz o mesmo gesto, após ser detido dentro da Assembleia Legislativa do Rio. Jerominho, pelas mesmas acusações de chefiar a milícia armada, foi preso antes, em dezembro de 2007.
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